Pela primeira vez na história, o mundo todo está mobilizado por causa de uma doença. Em outras ocasiões, um país ou uma região já se mobilizaram para combater o avanço de uma enfermidade. Na década de 1970, por exemplo, a meningite atingiu níveis alarmantes no Brasil e uma grande campanha de vacinação foi realizada.
O alvo era vacinar 10 milhões de pessoas em apenas quatro dias. E o País inteiro se movimentou por causa desse surto.
Mas todo esse movimento foi limitado a apenas um país.
Na África, mais de uma vez, houve movimentação de diferentes nações por causa do vírus Ebola. Em 2014, vários países africanos e outros de fora daquele continente, fizeram grande esforço para evitar a propagação desse vírus. Mas a movimentação também foi limitada.
Neste ano, por causa do coronavírus, países de todos os continentes estão tomando medidas que vão desde o fechamento das fronteiras, suspensão das atividades escolares, adiamento ou suspensão de eventos e celebrações religiosas, competições esportivas e espetáculos culturais, até o confinamento das pessoas dentro de suas casas.
As reações são as mais variadas: espanto, medo e desespero. Muitos perguntam por Deus. Outros procuram culpados em todas as esferas: política, econômica, cultural ou espiritual.
Tudo isso leva-nos a refletir sobre a esperança.
Pode haver esperança em meio a essa pandemia? O que a Bíblia diz sobre a esperança? Podemos aprender algo com ela?
Em 1 Coríntios 13.13, a esperança está vinculada à fé e ao amor. “Portanto, agora existem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. Porém a maior delas é o amor.” Nesse caso, a fé não se refere simplesmente a um sentimento da pessoa. A fé é caracterizada pelo objeto da fé, ou seja, em que a fé se apega. A fé se apega ao Deus verdadeiro. Essa fé está ligada à esperança.
A ligação da esperança com a fé em Deus mostra que a esperança não é uma criação da mente humana.
Quando dizemos a alguém de forma simplória que tudo vai melhorar, isso pode até transmitir um certo ânimo à pessoa,
mas a esperança cristã não se baseia em uma projeção de nossos desejos. A fé verdadeira põe sua esperança em Deus e em suas promessas e não no ser humano. Em Jeremias 17.5-8, o profeta diz que nossa confiança deve estar em Deus. Isso nos traz esperança para o futuro.
Nem mesmo a segurança religiosa pode fundamentar nossa esperança. O profeta Jeremias diz:
“Não confiem mais nestas palavras mentirosas: “Nós estamos seguros! Este é o Templo do SENHOR, este é o Templo do SENHOR, este é o Templo do SENHOR!” (Jr 7.4).
Não é um templo, nem a religiosidade que podem nos trazer segurança. Somente Deus pode nos dar a esperança que tem fundamento seguro.
Mas a esperança também é paradoxal. Ela é invisível. Ela está projetada num futuro que esperamos, mas ainda não temos. Romanos 6.24 diz: “Pois foi por meio da esperança que fomos salvos. Mas, se já estamos vendo aquilo que esperamos, então isso não é mais uma esperança. Pois quem é que fica esperando por alguma coisa que está vendo?” O autor de Hebreus (11.1) diz que “A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver.”
A esperança se firma em Deus e em suas promessas. Isso não quer dizer que ela é o que muitos chamaram de “o ópio do povo”. Ao contrário. A esperança em Deus e em suas promessas modifica nossa perspectiva de vida e nossa maneira de agir. Por isso, ela está ligada ao amor, ou como dizem as traduções bíblicas mais antigas, à caridade.
Nos momentos mais difíceis da vida, a esperança liga-se ao amor e resulta na caridade para com os que têm necessidades. O egoísmo e o medo são abandonados e as obras de amor são realizadas.
Se aplicamos esses pensamentos bíblicos à presente situação de pandemia que o mundo vive, podemos tirar algumas lições bem práticas.
Primeiro, não vamos confiar em promessas humanas que dizem que tudo é apenas algo que vai passar rapidamente. Se confiamos em Deus e suas promessas, podemos dizer que se a situação for muito dura ou muito simples, nossa relação com o futuro ou com a eternidade não se modifica.
Estamos cobertos pelo amor de Deus e podemos agir com naturalidade, tomando precauções, sem sucumbir ao medo ou pânico. Confiamos sempre na provisão divina. Esta certeza quanto ao presente e ao futuro nos dá a liberdade para agirmos com amor para com aqueles que necessitam de nós. Tal qual o Bom Samaritano, não é o medo dos malfeitores que ainda podem estar por perto que irá nos impedir de ajudar quem precisa de nós. Não é o vírus que vai nos recolher de forma egoísta a cuidar apenas de nós mesmos, sem estendermos o manto da caridade aos que precisam.
A esperança cristã, unida à fé e ao amor, modifica nossa perspectiva de vida e faz com que nossa fé seja ativa no amor.
Erní Walter Seibert
Extraído de www.ultimato.com.br