Rubem Amorese
Extraído da Revista Ultimato
Recente estudo demonstrou que pessoas tímidas dão presentes melhores. “Isso porque costumam duvidar mais da possibilidade de compartilhar as suas preferências. Segundo especialistas, o resultado pode ser aplicado em outras relações pessoais, como as amorosas”.
Esse estudo, reportado no jornal Correio Braziliense[1], foi publicado na revista especializada Psychology & Marketing. Pesquisadores queriam saber que tipo de personalidade é capaz de dar melhores presentes. “Você pensaria que pessoas seguras, com muitos amigos e relacionamentos, teriam uma ideia melhor do que alguém gostaria de presente, mas esse não é o caso”, ressaltou Meredith David, da Universidade de Baylor, autora do estudo”.
A pesquisadora se admirou com o fato de que os tímidos dão presentes mais apreciados. Sua hipótese inicial era de que as pessoas mais “sociáveis” teriam essa capacidade mais desenvolvida. Mas os resultados revelaram que pessoas com alto grau de segurança e liderança tendiam a projetar suas próprias preferências, ao presentear, como se seus gostos fossem universais. E o presenteado “certamente iria gostar”. Já os tímidos, ansiosos e inseguros
levaram grande vantagem, porque se importavam em buscar saber o que agradaria a pessoa a presentear. Para isso, faziam perguntas, sondavam a vida, os hábitos, e mesmo questionavam familiares.
Comentando o estudo, Caroline Salles, profess ora de psicologia do Centro Universitário IESB, diz que essas teorias são usadas em outros campos das relações humanas, como as questões afetivas. “Esse estudo americano mostra que estar seguro emocionalmente pode gerar pontos negativos, como escolher o presente certo. Essa coisa de estar centrado muito em si mesmo faz com que a pessoa veja as coisas por um lado só. É o que vemos muito nas redes sociais, por exemplo.”
Ao ler esse “achado” científico, não pude evitar de considerá-lo a partir de pressupostos bíblicos. E não se trata de imaginar a vitória dos tímidos, associando-os aos pobres de espírito ou aos que choram. Revanches à parte, pode-se aplicar o “cerne da questão” a qualquer tipo de personalidade. Imagino, então, que o amor bíblico — aquele que se importa com o outro, que serve ao próximo, e que, nesse diapasão, está sempre oferecendo “bons presentes” — é algo a ser recebido com o batismo e aprendido com Jesus, na caminhada cristã.
Considero, também, que a maturidade cristã, condensada na palavra de Paulo aos efésios: “… submetendo-vos uns aos outros, no temor de Cristo” (Ef 5:21), envolve progressiva libertação desse “estar centrado muito em si mesmo” a que se referiu a profa. Carolina Salles.
Ao pensar assim, percebo que a capacidade de dar bons presentes, aqui atribuída aos tímidos, facilmente se transformaria em atitude-símbolo da experiência cristã. Afinal, não seria essa a origem, a causa mais remota a que nossa mente pode chegar, quando se pergunta sobre o porquê daquele menino na manjedoura, sendo anunciado e exaltado por coro celestial?
Sim, por quê?! Porque Deus amou o mundo de tal maneira que nos deu um presente precioso, pessoal, adequado. E se alegra quando percebe que compreendemos seu gesto, recebemos seu presente e o apreciamos imensamente, entre constrangidos, alegres e gratos.