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Adoração na Bíblia é sempre uma resposta. Deus se revela e o homem responde. Qualquer outra ideia ou forma de adoração é mera religiosidade, essa atemporal e universal ideia de que podemos manobrar a divindade com palavras e rituais, algo que fazemos para que os deuses se vejam obrigados a nos favorecer. Cristianismo não é isso.

O cristão entendeu por revelação inquestionável e instrução insistente que adoração não é algo que fazemos para obrigar o Deus vivo a agir.

Adoração é a nossa reação ao que Deus fez em Cristo por nós. Adoração é a correta resposta ao Deus que toma a iniciativa em se revelar.

“No princípio, Deus.” Em seguida, altar. O bispo Wright comenta: “Quando começamos a perceber a realidade de Deus, nossa reação natural é adorá-lo.
Quando isso não acontece, é porque ainda não compreendemos de fato quem ele é e o que tem feito”. Adoração como resposta ao Senhor e
dependência do Senhor.

Que Deus nossa igreja adora? Adoração verdadeira requer conhecimento do Deus verdadeiro.
Jesus deixou isso claro à mulher samaritana: “Vocês, samaritanos, sabem muito pouco a respeito daquele a que adoram.  Nós adoramos com conhecimento, pois a salvação vem por meio dos judeus” (Jo 4.22).

Nossas congregações só adorarão se conhecerem o Deus a quem adoram. Esse é o requisito. Adoração não requer música virtuosística ou uma estética emocionante. Adoração requer conhecimento de Deus.

Quando o Senhor se revela e nós o conhecemos e o experimentamos então existe culto. Construímos altares como Abraão (Gn 12.7-8), caímos de joelhos a exemplo do profeta Isaías (Is 6), irrompemos em cânticos como Maria (Lc 1.46-55).

Muitas vezes me pergunto se nosso roteiro de liturgia e nossa ordem de culto não estão invertidos. Não seria o caso de começarmos com a Escritura e, em seguida, a resposta, ou seja, adoração? Cantamos para preparar o coração para ouvir a Deus. Não deveria ser o contrário? Não seria o caso de, em vez de usarmos “música complexa e desempenho profissional, transformarmos as nossas congregações em um grande coral bem treinado” (Mark Noll), todos, em uníssono, respondendo ao Deus que se revela e redime? Pena que a dança ao redor do bezerro de ouro do entretenimento religioso seja mais atraente (Êx 32). A boa performance venceu a boa teologia.

Reconhecer é conhecer de novo. É conhecimento que se atualiza, supera. “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor”
(Os 6.3). Minha preocupação como pastor e dirigente da adoração dominical não deveria ser “como a congregação pode adorar melhor”, mas “como podemos conhecer mais e mais o Deus a quem adoramos ou dizemos adorar”. A associação de conhecimento à mera informação, algo que diz respeito a fatos, conceitos, ideias, é ocidental. No pensamento bíblico, na forma hebraica de pensar, conhecimento é relacionamento.

Não conheço a Deus por recitar, corretamente e de cor, credos, catecismos e confissões. Conheço a Deus quando me relaciono com ele, “conversacionalmente”, como dizia Dallas Willard a respeito da oração. Conheço a Deus quando consigo ouvir sua voz e responder a ela orando, servindo-o, obedecendo-lhe, amando-o – adorando- o, enfim.

Gerson Borges
Extraído de www.ultimato.com.br/